Amplificadores valvulados
Timbres clássicos e suas características
O objetivo desta matéria é transpor com palavras as linhas gerais dos diferentes timbres de amplificadores valvulados. Vamos nos concentrar nos modelos clássicos, assim considerados pela época de sua criação ou som diferenciado.
Amplificadores valvulados possuem identidade e aplicações distintas, e o prévio conhecimento das características de cada um é necessário para uma boa compra, aos ouvidos e bolso. Outra ferramenta útil é a pesquisa de sites de avaliação de equipamentos (ex. Harmony Central), onde usuários relatam suas experiências e resultados.
Atualmente temos grande e excelente fabricação de válvulas, garantindo a produção de novos modelos pela indústria e peças de reposição de qualidade, seja por mérito da partição da URSS ou do poder industrial da China (nunca se vendeu tanta válvula no mundo, e a cada ano temos novos recordes).
Grande parte dos ditos novos modelos de amplificadores valvulados para guitarra são inspirados ou descendem diretamente daqueles tratados neste artigo. Pode-se dizer que, excluindo-se a sonoridade "hi-gain" que é nitidamente um fenômeno moderno, os aparelhos ganharam em funcionalidade e recursos, mantendo o fundamento do som nítido e orgânico das válvulas.
Com o objetivo de manter as referências dentro daquilo que é fundamental conhecer, limitaremos os modelos analisados para melhor compreensão de sua sonoridade básica e sua aplicação a cada necessidade.
Fender Twin Reverb
Apesar da extensa linha de produtos Fender (um dos pilares de toda a indústria de instrumentos eletrificados e seus acessórios), o termo "limpo Fender" é extensamente usado por guitarristas e imediatamente associado à um som cintilante, cheio e completo – o instrumento em sua plenitude de freqüências, de acordo com a sonoridade desejada na época de sua concepção.
Com suas pesquisas, Leo Fender conseguiu chegar a uma equalização que deixava o som da guitarra bonito e agradável, destacando-o na música. A sonoridade do Fender Twin Reverb está fundamentada nas válvulas de saída tipo 5881 (tetrodo de potência com feixe dirigido similar à atual 6L6), além da série 12ax7/12at7 na seção de pré-amplificação (preamp)1.
Pelo seu som com elevado headroom (capacidade de oferecer som limpo em altos volumes) as diferenças de pegada (dinâmica) do músico e instrumento são bem nítidas, permitindo excelente atuação dos pedais de efeito, servindo muitas vezes como modelo padrão para testes e gravações de demonstração.
No Brasil a Giannini fabricou os modelos Tremendão (com sua reedição em 2006) e True Reverber claramente inspirados no esquema deste modelo e variantes.
Ainda nesta linha, existem modelos Fender com a mesma seção de pré-amplificação (preamp) e válvulas 6V6 na seção do amplificador de potência (power)2 que conferem menor potência de saída e maior compressão em altos volumes.
Fender Bassman
Diferente do modelo anterior, o projeto Fender Bassman (originalmente em versão combo 4 x 10 para baixo elétrico) já apresenta alguma "má intenção" de nascença. Seu "preamp" - ainda soando limpo, é capaz de entregar alta carga de distorção harmônica com compressão dos picos, o que o diferencia do som quase estéril do projeto Twin. Desta forma, o Bassman destacou-se para os guitarristas de blues e posteriormente deu origem ao grande fabricante de modelos para rock (Marshall). Sua equalização tem um circuito específico com atuação em pontos distintos, e a comparação evidencia um destaque das freqüências médias neste modelo.
Apesar das diferenças, este amplificador aceita muito bem os pedais, somando ao efeito sua saturação leve e bem equilibrada. Já com pedais de boost ligados na entrada deste amplificador teremos um belo overdrive controlável na intensidade da palhetada.
Este modelo seguia originalmente com válvulas 12AY7 e 12AX7 no "preamp", além de válvulas 5881 na seção power, e tornou-se fonte básica de projeto para a maioria dos amplificadores de guitarra e baixo fabricados desde então.
Como versão nacional temos o Giannini Thunder Sound, em versões de baixo e guitarra.
Marshall JTM / Plexi
Nascido do projeto Fender Bassman, os primeiros modelos Marshall logo passaram a usar as válvulas KT66 (tetrodo), e em seguida as EL34 (pentodo de saída), mais acessíveis na Europa. Dada a grande diferença na resposta ao toque, levou o modelo à uma combinação diferente em sonoridade. Em busca do maior ganho usa válvulas 12ax7 em todas as posições da seção de pré-amplificação (duplos triodos com a maior amplificação disponível).
Com algumas outras mudanças no circuito, estabeleceu-se com esta marca, o padrão de som de rock que é reconhecível facilmente em discos desde o final dos anos 60.
Em baixos volumes estes amplificadores se comportam muito bem, cedendo espaço para booster de volume ou pedais de overdrive para conseguir saturações em volumes moderados. Já em altos volumes eles rugem pesado dado as suas características de saturação, carga harmônica e a acertada equalização com médios em destaque e graves controlados. Bandas de rock dos anos 70 e início dos 80 podem ser tomadas como exemplo dessa sonoridade, especialmente ao vivo.
Outro item fundamental nos projetos Marshall foi a padronização dos conjuntos de caixas com 4 falantes de 12 polegadas, que aumentam a eficiência do sistema nos graves e médio-graves (efeito "punch" ou pancada no peito). Complementam a receita, transformadores feitos de forma marginal às técnicas e baixa filtragem de fonte, garantindo um efeito de compressão em altos volumes.
Estes modelos caracterizam o timbre limpo Marshall, da forma que ela assim o interpreta.
Marshall JCM800
Após uma década de hegemonia Marshall nos palcos, percebeu-se que mais ganho (e por conseqüência maior controle dos graves) seria necessário para os anos 80. Com esse objetivo foi lançado o JCM800, modelo com médios agressivos e graves contidos, mas garantidos por generosas caixas 4 x 12. É um modelo de sonoridade própria e o uso com pedais deve ser cuidadoso, já que apesar do moderado ganho que apresenta, não dispõe de loop de efeitos nos modelos básicos.
Logicamente trabalha com válvulas 12ax7 no preamp e EL34 no power, apesar de algumas versões serem equipadas com válvulas 6550 nesta posição. O JCM800 é o ponto de partida da maioria dos projetos de amplificadores de alto ganho modernos, e muitos modelos da linha Laney são fundamentados nele.
Marshall JCM900
Descendente do JCM800, este modelo conta com um estágio de "hard clipping" (limitação brusca de amplitude da onda) por diodos de silício, que corta os picos do sinal, comprime fortemente o timbre e entrega altas doses de harmônicos altos (distorção arenosa e aguda). Amado por muitos e odiado por tantos outros, continua sendo uma referência em estilos como metal, punk e hard rock. Como recurso extra dispõe de canal limpo com ajustes separados, permitindo bom casamento com pedais.
Poucos fabricantes assumiram o uso de "hard clipping" em seus amplificadores valvulados (há quem considere o JCM900 como um híbrido por conta deste detalhe), mas no mercado nacional temos alguns modelos Meteoro com esta opção.
Tal como seu antecessor o JCM900 usa válvulas 12ax7 e EL34.
Amplificadores de estudo em baixa potência
Nos pequenos modelos ditos de estudo temos geralmente uma seção de "preamp" limpa, com poucos controles e um estágio de potência em Classe A operando em "Single-Ended", onde somente uma válvula é responsável por reproduzir toda a onda de áudio.
Muitos músicos consideram esta combinação como o nirvana do timbre, pelas altas doses de distorção harmônica par de baixa ordem, reconhecida pelo som quente e cremoso. Dada sua baixa potência (abaixo de 10 watts) é possível tocar em altos níveis de saturação, o que facilita sua aplicação para gravações e estudo. Nestes pequenos modelos ouvem-se claramente a sonoridade distinta das válvulas utilizadas – é a realização do conceito menos é mais.
Para aplicações em ensaios e shows o limitado "headroom" pode ser um problema, a não ser que se conte com sistema de reamplificação no palco.
Exemplos de modelos nessa classe são: Fender Champ, Vox AC4, Giannini Mini Mighty e muitos modelos fabricados pela Gibson.
Vox série AC
Partindo de alto-falantes específicos (cotados a preço de ouro hoje em dia), grande parte da sonoridade dos Britânicos VOX vem das válvulas de saída EL84 (pentodos de saída com soquete de 9 pinos), com seu timbre macio, bonito e altamente "saturável" no sentido rock´n´roll da palavra. Pode-se claramente ouvir seu som nos primeiros discos do Led Zeppelin, Queen e logicamente Beatles (que só usavam VOX ao vivo, por força de contrato), entre outros.
Modelos com essas válvulas de potência terão sua sonoridade afetada em altos volumes (médios salientes e ardidos, com boa compressão), e por isso pedais de modulação e ambiência podem ter resultados diferentes nessas circunstâncias. Já pedais de boost e overdrive geralmente soam muito bem com as EL84.
Derivam desta linha de projeto alguns pequenos modelos da Laney, Fender Blues Junior, Orange Tiny Terror e a série Peavey Classic.
Esperamos que o artigo contribua no entendimento e escolha do valvulado ideal para os sons desejados, e que eles atuem como ferramentas na expressão da arte de cada músico.
Pedrone
Augusto Pedrone é fabricante de amplificadores valvulados
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www.pedrone.com.br
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- 1Pré-amplificador ou Preamp: É o estágio de um amplificador de áudio que recebe o sinal da fonte sonora, tais como o gravador cassete, o receptor e o toca-discos de baixo nível e corrige-o, entregando em sua saída um sinal suficientemente elevado para excitar o amplificador de potência. (Fonte: Wikipédia)
- 2 Amplificador de potência ou Power-amp (power): É o estágio de um amplificador de áudio ou de RF (radio frequencia) que eleva o sinal de áudio ou de RF fornecido pelo pré-amplificador ou oscilador a um nível de tensão e impedância adequados para funcionar as caixas acústicas ou antenas transmisoras. (Fonte: Wikipédia)
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